Você sabe o que é comfort food? O restaurante Casa de Ieda, em Pinheiros (SP), mostra na prática
Do inglês, o termo comfort food traz o conceito de comida afetiva, aquela que remete às coisas mais simples e deliciosas da vida e que proporciona aconchego (comfort significa confortável). É aquela comida preparada com amor, que proporciona a sensação de cuidado, carinho e bem-estar.
Alguns restaurantes seguem esse conceito e têm o intuito de oferecer aos consumidores uma experiência que mescla a simplicidade aliada ao sabor autêntico de seus cardápios.
A Casa de Ieda, restaurante de comida nordestina em Pinheiros (SP), é um desses lugares. Vencedora do Fora da Rota, primeiro reality gastronômico de Stella Artois, transmitido em 2020 e apresentado pelo renomado chef Alex Atala, a Casa de Ieda tem à frente a chef Ieda Matos. Como prêmio do programa, ela ganhou a oportunidade de comandar a cozinha do “Portinha Stella”, espaço conceito da cerveja que foi inaugurado em 2021, em São Paulo, com o intuito de funcionar por tempo limitado para fomentar a gastronomia local e proporcionar experiências inovadoras.
A chef imprime em seus pratos toda a sua vivência na Chapada Diamantina (BA), onde nasceu e viveu. Ieda toca o estabelecimento ao lado do marido e do filho, também chef.
Criada na roça com mais 13 irmãos, em meio à natureza, ela gostava de ficar observando as tias cozinharem no fogão a lenha os pratos que eram vendidos nas feiras em cidades próximas. “A gente produzia 100% do que comia. Galinha, pegava no quintal, matava e comia. O leite vinha da nossa vaca — a primeira vez que tomei leite em caixinha foi horrível! Minha avó cozinhava com banha, no fogão à lenha, tudo tinha sabor. A primeira vez que comi comida feita no gás foi um choque, não tinha gosto! Coisa industrializada, só provei depois de moça”, explica.
Os seus dotes culinários foram adquiridos enquanto morava com uma de suas tias, a Maria. Foi ela que, segundo Ieda, a ensinou os truques da cozinha e os temperos dos pratos, todos naturais, plantados pela própria família. “O sabor vinha da simplicidade. A gente sai da roça, mas a roça nunca sai da gente”.
A chef veio pra São Paulo aos 12 anos, incentivada pela tia, mas não se adaptou. Voltou para Salvador, onde começou a fazer quitutes para vender: bolos, salgados e marmitex. Porém, o sonho de se tornar profissional com um curso superior de gastronomia permanecia em seu coração. Retornou à capital paulistana aos 33, decidida a fazer dar certo. Matriculou-se em uma escola para finalizar o ensino médio e, mais tarde, com a venda de salgados, pagou as mensalidades de um curso técnico em gastronomia. Não satisfeita, emendou na universidade na mesma área, formando-se aos 42 anos.
Ieda carrega também em sua bagagem profissional uma experiência no exterior, já que o seu marido, logo que terminou a faculdade de Biblioteconomia na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), ganhou uma bolsa para estudar na Bélgica. Enquanto ele estudava, a chef fazia estágios em diferentes cozinhas, mesmo sem saber falar o idioma. “Batia de porta em porta com coragem. Não falava nada de inglês, mas estudei um pouco de espanhol. Na gastronomia, você não precisa falar com as palavras, falamos com a faca na mão. Todos usamos a mesma linguagem ao cozinhar”, conta.
De volta ao Brasil e com a dúvida se trabalharia 12h na cozinha de alguém ou deveria montar o seu próprio negócio, encontrou uma solução: no auge do food truck, decidiu criar um que levasse sua identidade. E assim, a família montou uma kombi, batizada de “Boca Piu – O Segredo da Gastronomia Nordestina”. Quando esse mercado saturou, após três anos, surgiu a oportunidade de abrir o seu restaurante em um ponto fixo. Foi assim que nasceu a Casa da Ieda, em 2017, após a sua ida à Chapada Diamantina, onde fez uma pesquisa com cozinheiras e voltou para São Paulo decidida a trabalhar com pratos da sua região de origem, adaptando-os ao paladar paulistano (por exemplo, usando menos coentro). “O sabor da Chapada é aquele de casa de mãe. Uma comida que você produz com o que tem no quintal, com o que a natureza oferece”, descreve a chef.
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