Como retornar às atividades presenciais com segurança
“Não deixe de viver por medo de morrer”. É essa a orientação da geriatra Luciana Pricoli Vilela* a todos os idosos que estão com receio de voltar às atividades presenciais. “Há ainda a situação em que os familiares dos 60+, na tentativa de protegê-los, acabam causando um alarde na família para mantê-los ainda isolados, deixando-os até mesmo sem as atividades essenciais que eles precisam para manter a saúde, como praticar exercícios físicos, fisioterapia, terapeuta ocupacional, acompanhamento médico, entre outros. É preciso cuidado com a preocupação excessiva, porque a pandemia causou um prejuízo muito grande na saúde emocional e física dos idosos e continuar mantendo-os isolados é ainda pior”, explica.
Segundo a médica, o que as pessoas da melhor idade deverão fazer daqui para frente é adaptar a vida para melhor conviver com a situação da pandemia, que não há previsão de finalizar. “O momento urge adaptações para que as pessoas possam voltar às suas atividades para melhorar a saúde. Tudo o que era feito em termos de aglomeração, como atividade física na academia do prédio, por exemplo, precisa ser adaptado, mas não cortado da vida do idoso”, diz. Ela cita ainda a sugestão de uma paciente, que juntou mais três pessoas para contratar um personal trainer e então fazerem as atividades em uma área aberta do condomínio. “Além de reduzir os custos com o profissional, elas ficam distantes umas das outras e em local aberto, mas mantendo as máscaras e o uso do álcool”, explica. Outra sugestão da médica é que as pessoas que faziam hidroginástica, por exemplo, retornem às atividades em turmas menores e utilizem a máscara face shield para manter a proteção durante a prática.
“Ou seja, os protocolos de segurança devem continuar, pois é a medida mais eficaz de proteção contra a contaminação pela Covid-19, pois o que já se sabe é que a transmissão do coronavírus se dá pelas vias respiratórias e pelas gotículas quando a pessoa fala, tosse ou espirra. Por isso, o uso da máscara continua imprescindível, além de manter o distanciamento no caso das pessoas que estão comendo ou bebendo, pois a contaminação normalmente acontece em algum momento de descuido, quando as pessoas tiram as máscaras e ficam muito próximas umas das outras. Porém, quando respeitadas essas medidas, a pessoa está protegida”, ressalta a especialista.
“Os idosos não podem deixar de voltar à interação social por medo da contaminação e, principalmente, às suas atividades rotineiras de saúde, pois o que vimos também em consultório é que o isolamento por prevenção causou uma piora cognitiva significativa em pessoas com quadros de demência por falta da interação social, além dos casos de depressão e ansiedade, que cresceram muito durante a pandemia”, explica.
A geriatra esclarece ainda que a depressão, em alguns casos, foi verificada como uma das sequelas da contaminação pela Covid-19 e, por isso, precisa ser tratada profissionalmente. “Por isso, é comum ver pacientes recuperados do coronavírus, mas com quadro depressivo e que ficam com medo de sair de casa, mesmo estando bem de saúde”, relata.
Por isso, a médica alerta para a importância da busca de atendimento profissional nesses casos. “É preciso que o idoso ou a família perceba sinais importantes da depressão, como angústia constante, dificuldades para dormir, a pessoa emagrecer ou engordar em um curto período de tempo, notar se para a pessoa a vida perdeu sentido ou se ela se sente inútil, estar muito pessimista e que nada na vida dela tem solução. Já no caso da ansiedade, um dos sintomas principais é a pessoa se sentir paralisada, com medo excessivo e, por isso, não quer sair de casa por nada. Diante de qualquer um desses sinais, a família ou o próprio idoso deve buscar atendimento médico”, orienta. Segundo ela, a prática de atividade física e a interação social são responsáveis pela sensação do bem estar e ajudam no combate à depressão e à ansiedade, daí a importância da retomada às atividades presenciais com as devidas precauções.
De acordo com a geriatra, é preciso checar também como estão os quatro fatores essenciais na vida do idoso que garantem uma melhor qualidade de vida, que são: qualidade do sono, hábitos alimentares, além da prática de atividade física e interação social já mencionadas. “Caso qualquer um desses pilares esteja em defasagem, a qualidade de vida dessa pessoa estará comprometida. Por isso a importância dos idosos ou familiares fazerem uma avaliação desses pontos para checar como podem ajustar os itens que não estão sendo atendidos”. E complementa: “Vale lembrar que saúde não se compra em cápsulas! É questão de hábitos saudáveis”.
Surto de influenza A – H3N2
Com os números crescentes de pessoas contaminadas pela Influenza A – H3N2, a médica diz que os cuidados são os similares em relação à Covid-19: uso de máscara e álcool em gel, distanciamento e que os idosos busquem atendimento emergencial se houver gravidade dos sintomas, como febre alta, dor no corpo, tosse com secreção e falta de ar, além dos casos de pacientes que já apresentam condições frágeis de saúde, como doenças pulmonares ou comorbidades.
“É preciso buscar o atendimento médico nesses casos mais graves da Influenza para que não progrida para uma pneumonia, por exemplo”, explica. Mas, segundo a médica, o surto não é motivo de alarde: “assim como a Covid-19, a contaminação do vírus da Influenza também se dá por vias respiratórias e gotículas ao falarmos perto das pessoas. Por isso, reforçar as medidas de proteção que vínhamos mantendo em relação ao coronavírus é o suficiente para manter as pessoas protegidas dessa nova gripe, além de, claro, que as pessoas evitem aglomerações”, diz.
A doutora ressalta ainda a importância da vacinação, não apenas em relação à terceira dose de reforço, mas à vacina da gripe. “Muitas pessoas acabam não tomando a vacina contra a Influenza por considerar ser algo simples. Mas é preciso manter todas as vacinas em dia para que em situações como essa, de uma variante que está ocasionando o surto de uma gripe mais forte, o organismo não seja tão afetado. Por isso, a cada campanha de vacinação que o governo fizer, que a população faça sua parte indo tomar as vacinas”, alerta.