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Da prática à missão de vida: Sônia Matsumura Kudeken se dedica, há 26 anos, ao Lian Gong em Suzano

A cada ano, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, uma mulher do município de Suzano é eleita para receber a Medalha Vereadora Augustinha Raphaela Maida Molteni (Resolução 001/2019, da Câmara Municipal de Suzano), que tem como objetivo reconhecer as ações de mulheres que contribuem com o desenvolvimento do município. 

A honraria, que leva o nome da primeira vereadora do Legislativo da cidade, foi criada pela parlamentar Gerice Lione (PL) em 2019. Neste ano, a solenidade foi realizada no dia 22 de março e a Medalha foi concedida por Decreto Legislativo, com autoria do Presidente da Câmara Municipal de Suzano, o vereador Joaquim Antonio da Rosa Neto, a Sônia Matsumura Kudeken, que tem promovido, ao longo de 26 anos, saúde e bem-estar a milhares de munícipes como uma das principais coordenadoras do Lian Gong – uma prática corporal chinesa, com movimentos leves que proporcionam alongamento, melhora da flexibilidade muscular, amplitude articular,  desenvolvimento da consciência corporal e reeducação postural. Além dos benefícios físicos, como alívio de dores, a prática chinesa também é conhecida por promover saúde emocional: são comuns os relatos de pessoas que dizem ter vencido a depressão ao praticarem o Lian Gong.

Vitória essa que também faz parte da história de vida de Sônia ao conhecer a prática em um momento em que estava caminhando, cada vez mais, para um processo depressivo por conta do falecimento de seu pai, em um acidente automobilístico. “Naquela época, devido à experiência com a produção de salgados, por conta de uma lanchonete que tínhamos sido proprietários há alguns anos, eu continuava produzindo e vendendo quitutes com massa de batata (receita da minha avó, que passou para minha mãe e depois para mim) a antigos clientes e conhecidos. Como meu pai estava aposentado, sempre que ele encontrava batatas a um preço atrativo, ele trazia para mim à tarde. Então, eu preparava um café fresquinho para tomarmos juntos e conversarmos sobre a vida – momentos que eram muito alegres e especiais, pois eu era muito apegada a ele. Então, quando ele faleceu, em 1997, o meu mundo desabou e mergulhei em um poço sem fim de muita tristeza. Um dia, por acaso, estava acontecendo uma prática do Lian Gong, ministrada pelo médico sanitarista e acupunturista Antônio Caldeira, e pude experienciá-la. A partir desse dia, tornei-me praticante”, relembra.

Sônia conta ainda que, trabalhando os movimentos, a respiração e conhecendo também outras histórias de vida, foi saindo da depressão e sentindo que as suas dores não eram tão intensas como as de muitas pessoas que havia conhecido durante as práticas. Passou a transformar a tristeza profunda em acolhimento e atenção aos praticantes, entendendo que todos estavam ali por alguma busca, seja para amenizar as dores físicas ou as da alma. Assim, logo que começou a frequentar o grupo, foi convidada a fazer um treinamento de Lian Gong. “Eu queria aprender a técnica, não tinha o intuito de me tornar monitora. Mas, ao receber o convite para a monitoria, venci a timidez e iniciei a implementação do Lian Gong em Suzano. Foi um desafio muito grande, ainda mais porque já tinha passado dos 40 anos de idade e tinha que demonstrar e conduzir os movimentos, explicando cada um deles”, diz.

Ela relembra ainda que conciliar as atividades da prática com a sua vida pessoal e profissional, na época, não foi nada fácil: “Como o meu pai havia falecido, minha família buscou passar mais tempo com a minha mãe para que ela não ficasse sozinha. Nesse período, meu marido trabalhava em uma imobiliária e eu produzia e vendia salgados, ao mesmo tempo em que tinha que dar conta de três filhos adolescentes. Mas, ainda com tantos desafios, não desisti e iniciei como monitora de um ponto de prática numa escola da rede municipal, onde eu dava aulas para crianças e adultos como voluntária”.

A partir de então, participou de diferentes capacitações e articulou a implantação de novos pontos de prática, expandindo a ação a diversas escolas suzanenses e beneficiando milhares de pessoas. Para os interessados em ingressar na monitoria do Lian Gong em Suzano, ela destaca que é preciso ter conhecimento dos ideais do Programa Qualidade de Vida do Lian Gong e complementa: “A técnica é muito importante, mas estar imbuído de acolhimento, atenção, carinho e dedicação com os praticantes, principalmente os da melhor idade, é fundamental para exercer a monitoria com sucesso, em um trabalho que envolve as áreas da saúde e do social, concomitantemente”, salienta Sônia.

História do Lian Gong em Suzano

No Brasil, a prática do Lian Gong foi introduzida por Maria Lúcia Lee, professora de Filosofia e Danças Orientais. Em Suzano, a técnica chinesa foi implementada pelo médico Dr. Antônio Caldeira, que era o Coordenador Geral da prática na cidade. Posteriormente, Ricardo Silva foi quem assumiu a Coordenação no município. “Em 2001, fui passar uma temporada de trabalho no Japão, com toda a família, e, ainda assim, não parei de aplicar o Lian Gong: passei a ensinar a prática a brasileiros e japoneses no país do Sol Nascente. Assim que voltei ao Brasil em 2007, fui convidada a retomar as atividades do Lian Gong como uma das cinco Coordenadoras de Área, sendo responsável pela Área Central, região que coordeno até hoje (com 24 monitoras e em torno de 200 praticantes). Em 2017, a Coordenação Geral da prática do Lian Gong na cidade passou a ser da Associação Cultural Chinesa”, diz.

Sônia ressalta ainda: “Passa um filme na minha mente sobre todos os anos de dedicação da implementação do Lian Gong no município. Foram muitas batalhas, mas, a prática só permanece até hoje graças à resiliência de coordenadores, monitores e praticantes, juntamente com o apoio da Associação Cultural Chinesa e também de lideranças do município. Mas, sabemos que ainda temos muitas melhoras a realizar, cujo objetivo é aprimorar ainda mais a aplicação da prática ao público, como a necessidade de termos uma sede do Lian Gong, que também servirá de local de encontros e reuniões. Carecemos ainda de uniformes completos e uma melhor estrutura em relação ao transporte do grupo aos eventos. Com tais melhorias, acredito que o Lian Gong fortalecerá ainda mais Suzano como um exemplo, não apenas ao Brasil, mas ao mundo, da prática e de seus benefícios à população”, salienta.

E, entre as principais vitórias como uma das pessoas à frente do Lian Gong na cidade, Sônia ressalta a instituição, pela Câmara Municipal de Suzano, da “Semana do Lian Gong”, que ocorre anualmente em setembro. Ela destaca também a luta do grupo pelo título ao Lian Gong de Patrimônio Imaterial Cultural de Suzano, que ainda permanece como sonho das lideranças da prática. Quanto à homenagem por meio da Medalha Vereadora Augustinha Raphaela Maida Molteni, ela ressalta: “Essa honraria tem um grande significado à minha vida: mesmo com tantas dificuldades para continuar no Programa, por conta dos momentos mais desafiadores em conciliar família, produção de salgados e a agenda das práticas; segui o meu coração e persisti. Guardo muitas memórias especiais desses anos de vivência no Lian Gong, como o grande apoio da minha mãe, que me incentivava todos os dias e até aderiu à prática; o envolvimento de alguns dos meus filhos em momentos específicos (minha filha Cristiane até se tornou monitora em alguns pontos de prática na comunidade para que eu pudesse seguir para a área educacional, levando o Lian Gong a 25 escolas municipais; meu filho Robson, que ajudou na organização e decoração de alguns dos eventos que o grupo participou), entre tantas outros momentos que marcaram a minha vida e me emocionam quando lembro de cada etapa desta jornada. Por isso, essa Medalha não é só minha, mas de todas as pessoas que participaram e participam de toda a construção do legado do Lian Gong em Suzano, em prol da tão importante melhora da saúde física, mental e emocional dos praticantes”, destaca Sônia.

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