Não desista de Você!
Por Maria Antonieta Voivodic*
Tenho como convicção que estamos na terra para aprender e evoluir enquanto espírito. Mas, para isso precisamos de nosso envoltório – nosso corpo físico. Portanto, precisamos cuidar dele, temos responsabilidade por ele!
Vou relatar um pouco de minha experiência com esse corpo e comigo mesma, talvez possa ajudá-los neste momento pelo qual passamos.
Tenho quase 68 anos. Tive Poliomielite com 1 ano, que felizmente só deixou uma pequena sequela do lado direito, principalmente na perna. Embora, naquela época, não houvesse muitos recursos em termos de reabilitação, tais como a fisioterapia, meus pais nunca aceitaram o “não fazer nada” e me estimularam com todas as atividades físicas possíveis, que às vezes eram criadas por eles mesmos. Juntou-se a isso meu gênio, bastante teimosa e determinada para fazer as coisas. Talvez por essa conjunção de fatores, tive um bom desenvolvimento, conseguindo andar, sem apoios e fazer quase tudo que uma criança fazia, inclusive andar de bicicleta e mais tarde dirigir.
Portanto tive uma vida bastante normal, tive filhos, montei uma escola, dava aulas em faculdade e nunca me restringi devido à minha deficiência.
Porém, com 52 anos, nova surpresa do destino. Comecei a perder força muscular, sentindo que estava perdendo musculatura, caía com facilidade e sentia um cansaço excessivo. Depois de uma grande peregrinação por médicos, conheci um neurologista maravilhoso como médico e como pessoa, Dr Acary Burle, do qual tive o diagnóstico que estava com Síndrome Pós-Pólio. Uma Síndrome até então desconhecida por mim e que propiciava uma nova inflamação dos neurônios musculares, causando dores em toda musculatura, muita fadiga e dificuldades motoras, inclusive na deglutição e na voz. Segui as recomendações indicadas em termos de medicamentos e tratamentos de fisioterapia e fonoaudiologia, tendo também a recomendação de não fazer esforço muscular. Porém, o maior problema a enfrentar era a necessidade de descansar. Apesar da sugestão de que eu parasse de trabalhar, ou reduzisse drasticamente o que fazia, depois de longa conversa com Dr Acary, que me ouviu e entendeu, resolvi que se parasse de trabalhar, o prejuízo emocional seria muito maior e tenho certeza, também acarretaria prejuízo físico. Portanto assumi cuidar de meu corpo, físico e emocional. Fazia todos os tratamentos prescritos, com muita determinação, mas continuei trabalhando, procurando evitar qualquer esforço maior da musculatura, embora minha fadiga fosse grande. Apesar do cansaço, trabalhar me fazia um bem enorme e, se naquele momento eu parasse, sentia que desistiria de mim, de meus propósitos.
Levei as duas coisas, trabalho na escola e faculdade, juntamente com meus tratamentos, por quase dez anos. Porém nesta época comecei a ter dores muito intensas na coluna e dificuldade para andar. Passei então a usar uma bengala para auxiliar a caminhada, a qual usei por alguns anos. Como tive também dificuldades em relação à voz, tive que parar de dar aulas na faculdade. Mas continuei meu trabalho na escola.
No ano passado, com 67 anos e já pensando seriamente em parar de trabalhar, tive uma complicação em decorrência da Síndrome, uma pneumonia por bronco-aspiração. Resolvi que era chegada a hora de parar. Tinha alguns planos que ainda gostaria de realizar na vida, tais como curtir mais os netos, escrever histórias infantis, fazer voluntariado e levar uma vida mais sossegada. Percebia também que, neste momento da vida, precisava me dedicar mais a fazer exercícios para manutenção de minha saúde.
Iniciei este ano sem trabalhar e estava voltando ao meu ritmo de exercícios físicos, que tinham sido interrompidos com a pneumonia. Veio então, para todos, a pandemia que estamos vivendo. Confesso que foi um baque! E meus planos? Tinha esperado tanto por isso! E meus exercícios, com fisioterapeuta e fonoaudióloga sem atender? Passada a fase inicial, do que fazer, com o medo de que viesse a perder musculatura e mobilidade, resolvi que não ia desistir de mim. Preparei uma sequência de exercícios, que pesquisei em sites e alguns sugeridos pelos profissionais que me atendiam e estou fazendo regularmente atividade física, conseguindo também andar em meu prédio por 30 minutos.
Faço também todos os dias um tempo de meditação. Paralelo a isso estou escrevendo histórias infantis, pois isso me diverte, estimula meu cérebro e me faz sentir viva.
Acredito que temos um mito de que, quando temos um problema, deixamos de fazer muitas coisas e delegamos sempre ser cuidados por algum especialista, quando, muitas vezes, em grande parte, somos a pessoa que melhor sabe do que precisamos. Com isso, não quero de forma nenhuma menosprezar o trabalho dos profissionais, que são as pessoas que me ensinaram a cuidar de meu corpo. Mas quero mostrar que podemos sim nos cuidar, manter nosso corpo, manter nosso cérebro em funcionamento e principalmente manter nossos propósitos.
Com a pandemia estamos atravessando uma fase difícil, principalmente em decorrência do isolamento social. Mas, mesmo que você tenha problemas físicos, de saúde ou decorrentes da idade, todos os dias faça o melhor que puder, para manter seu corpo e seu cérebro funcionando, enfim para se manter vivo! Nunca desista de você!
*Maria Antonieta Voivodic é psicóloga, atuou em escola de educação infantil por 42 anos e atualmente está aposentada.