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Uma nova profissão aos 92 anos: conheça a história de Aspasia de Araujo d’Avila

Você acredita ser possível iniciar uma profissão aos 92 anos? Se a sua resposta foi negativa, você precisa conhecer a história da carioca Aspasia de Araujo d’Avila, hoje com 95 anos! 

Depois de perder seu marido e um de seus filhos, ambos vítimas de câncer, decidiu ocupar a mente fazendo artesanato: aprendeu a técnica milenar japonesa chamada amigurumi e começou a confeccionar bonecos em crochê. E ficaram tão bons, que, após a primeira venda estimulada pela neta, seus bibelôs começaram a ser conhecidos e divulgados boca a boca e, então, Aspasia iniciou o seu negócio aos 92 anos. Passou a trabalhar bastante para atender os pedidos que, hoje, chegam do Brasil inteiro e de países como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Portugal. E, pasmem: ela nunca havia trabalhado antes, por isso, pela primeira vez na vida ela diz se sentir plenamente realizada em ter seu próprio dinheiro para gastar como bem entender: na taça de vinho diária que não dispensa, no chope com as amigas, no cinema, na hidroginástica.

Segundo ela, sua mãe sempre foi dona de casa e seu pai fazia de tudo. Aos 14 anos, Aspasia conheceu Alziro em um bonde e se casaram três anos depois. Assim, a sua vida passou a ser cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Por isso, a artesã nunca havia trabalhado fora. “Eu não tinha tempo para nada. Fazia as tarefas domésticas e cuidava dos três sozinha. Meu marido sempre lutou com muita dificuldade. Ainda muito novo, perdeu o pai e, como era o mais velho de sete irmãos, precisou trabalhar fora para sustentar a família. Seu sonho era fazer medicina, mas ele não tinha condições financeiras para tal. Se formou, então, em contabilidade e trabalhou na Central do Brasil. Depois, aceitou o convite de um amigo para ser gerente de uma loja de brinquedos, que logo faliu. Mas era muito inteligente, competente e querido por todos e, em pouco tempo, foi convidado por outro amigo para trabalhar em sua empresa de construção civil. Após alguns meses, tamanho seu esforço e competência, virou sócio nesta empresa. Mas, a empresa não foi pra frente e meu marido se uniu, então, a outro amigo para fundar a própria empresa, no mesmo ramo de construção civil. Com isso, nossa vida começou a melhorar”, relembra.

Aspasia diz ainda que sempre gostou muito de trabalhos manuais e na época era raro a mulher trabalhar fora. Por isso, nunca abandonara a paixão pelo artesanato e, sozinha, aprendeu a crochetar – dom que certamente herdou de sua mãe: “minha mãe era muito boa no crochê, mas eu nunca quis aprender. O ponto dela era espetacular, muito delicado. Somente anos depois de ela ter morrido, me interessei em aprender. Na época, não tinha tutoriais na internet. Então, aprendi sozinha, na marra”. Aspasia criava tapetes e peças em crochê para presentear filhos e netos. 

Quando seu marido Alziro fez 72 anos, foi diagnosticado com câncer de próstata e, em dez meses, faleceu. “Perdi o grande amor da minha vida, mas como ele mesmo falava, o show tinha que continuar”, diz. Seu filho mais novo voltou a morar com ela, mas, dois anos depois, aos 68 anos, teve um câncer agressivo e faleceu em dez dias. “Fiquei muito baqueada. Nunca imaginei enterrar um filho. Não é a lei natural da vida. Minha família queria me ocupar com algo para me animar. Falei para eles: ‘vou sofrer alguns dias, mas sei que vou me reerguer. Faz parte. Tenho que seguir em frente’. Eu queria continuar morando onde sempre morei e não aceitei morar com ninguém. Ficaria bem sozinha e estou. Minha filha mora no mesmo prédio que eu e minha neta mora no prédio ao lado. Estava bem cercada e assistida”.

Início da jornada com o amigurumi

A bisneta de Aspasia fez a primeira comunhão e sua neta, Fabiana, comprou uma Nossa Senhora de Fátima feita em amigurumi, para presenteá-la. “Fiquei completamente encantada por esse trabalho. Na mesma hora, quis aprender a fazer.

Minha filha então achou vários tutoriais na internet e, em uma semana, fiz cinco anjinhos fofos para enfeitar a mesa da primeira comunhão da minha bisneta. Amigurumi é uma junção de palavras de origem japonesa de ‘ami’ (em português, tricô ou malha) e nuigurumi (bichos de pelúcia). Comecei a fazer anjos e santinhos, e não queria mais parar. Adorei a técnica, queria sempre fazer um novo modelo. Todos se encantavam com meu trabalho e passei a fazer vários modelos diferentes de Nossa Senhora, anjos e santos. Minha neta conseguiu minha primeira cliente no seu trabalho, e a coisa foi se espalhando. A cada dia surgiam novas encomendas. Fui recebendo elogios, que me enchiam de alegria, e ainda ganhando um dinheirinho extra. E os pedidos aumentando mais e mais. Quando me dei conta, estava com 92 anos e, pela primeira vez na vida, tinha um emprego. Antes, nunca havia ganhado meu próprio dinheiro, resultado do suor de meu esforço e trabalho. Quem diria! Só sei que em três meses vendi 100 modelos. Seis meses depois, já tinha vendido mais de 200 amigurumi. Estava muito feliz, nunca havia me sentido realizada como profissional, dona do meu próprio negócio”, comemora.

Ela conta ainda que um de seus netos começou a chamá-la de Vó Pati e, então, todos adotaram o apelido, passando a chamá-la da mesma forma – ideia que rendeu a Aspasia o nome do seu novo negócio: Vó Pati Atelier. Sua neta criou o instagram da marca para divulgar seu trabalho e deu super certo! Em poucos dias, seu perfil ganhou mais de 1.000 seguidores – que hoje somam quase 6 mil – e começaram a chover pedidos. ‘Trabalhamos em equipe: eu crocheto, minha filha monta os bonequinhos e minha neta divulga. Faço questão de responder cada uma das mensagens que recebo nas redes sociais, sempre tão carinhosas. E fico encantada e impressionada com o interesse das pessoas pelo meu trabalho. Sabe o que eu queria mesmo? Ter uns mil braços para atender todo mundo bem rapidinho, não quero deixar ninguém na mão”, diz preocupada com o atendimento.

Vem conferir o trabalho lindo da Vó Pati!

@https://www.instagram.com/vopatiatelier/

Fonte:

https://revistamarieclaire.globo.com/Maire-Claire-no-Instagram/noticia/2020/03/consegui-meu-primeiro-trabalho-aos-92-anos.html

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