Cantor Joe Hirata faz alerta sobre a importância do uso de aparelho auditivo
Joe Hirata, nascido em Maringá/PR, mudou a história da TV japonesa ao ser o primeiro estrangeiro a vencer o maior e mais famoso concurso de karaokê amador do Japão, o NHK Nodojiman, organizado pela rede estatal de TV NHK, em 1994. Aos 27 anos, ele competiu com mais 80.000 candidatos e, além dele, outros três brasileiros também estavam na disputa da 50ª edição do concurso, que tinha transmissão também para o público brasileiro: as famílias orientais assistiam a competição anualmente.
A partir dessa vitória, Joe passou a ser reconhecido no Japão, voltou ao Brasil e consolidou-se na carreira de cantor que hoje contabiliza 23 anos, tem sete discos lançados com músicas autorais e versões originais que unem a cultura japonesa com a brasileira, mesclando o estilo sertanejo com a batida dos tambores japoneses, o taikô; além de cantar as principais canções japonesas, como homenagem às suas origens. Joe já participou de diversos programas da TV brasileira, como Jô Soares, Hebe Camargo, Raul Gil, The Noite (com Danilo Gentili), foi um dos cem jurados do programa Canta Comigo, nas últimas duas temporadas gravadas pelo Gugu, entre outros.
Sempre com o coração cheio de gratidão e de sorriso fácil, as pessoas não imaginam que o cantor convive com uma deficiência auditiva genética e faz uso de aparelho auditivo há 9 anos, que ele mesmo conta em um dos seus posts no Instagram. “Resolvi fazer o alerta sobre o assunto, porque as pessoas só buscam a audiometria quando sentem alguma dificuldade, como zumbido ou uma perda auditiva. Mas, é preciso atenção ao diagnóstico precoce, porque quanto antes a pessoa tratar com o aparelho, melhor será a qualidade da audição. No meu caso, por estar sempre submetido a muitos sons altos na produção das músicas, shows e eventos, eu não tinha a noção que estava acontecendo uma perda auditiva ao longo dos anos por tantos estímulos sonoros constantes. Por isso, quando a minha fonoaudióloga, a dra Simone Oksman, recomendou o uso do aparelho, não tive dúvidas: coloquei e a minha vida mudou completamente: houve uma melhora considerável na qualidade dos sons que passei a ouvir, tanto em cima dos palcos, na composição das músicas, como no dia a dia. É a sensação de que o mundo se ampliou”, relata.
“O diagnóstico precoce é fundamental para que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível, garantindo, assim, uma melhor recuperação. Quanto mais tempo o paciente demora para procurar ajuda, mais tempo as células ficam sem estímulo e a consequência é a maior dificuldade em recuperá-las. No caso de adultos e idosos, a perda auditiva não tratada compromete as relações pessoais e profissionais, além de poder causar isolamento social, depressão, demências e outras alterações de saúde. A avaliação da audição é importante em qualquer faixa etária, mas principalmente adultos e idosos devem incluir na bateria de exames anuais a audiometria, principalmente aqueles com fatores de risco como hereditariedade, alterações metabólicas, presença de zumbido, exposição a ruído, entre outros. Quanto antes detectada e tratada, menores serão os prejuízos decorrentes da falta de estimulação”, explica a fonoaudióloga Simone Oksman.
Ela reforça ainda que em qualquer caso de queixa auditiva, que a pessoa busque imediatamente um profissional especializado.E é exatamente esse o alerta que Joe faz, pois, segundo ele, as pessoas vão buscar ajuda profissional de forma tardia, quando as frequências que ouvimos já perderam a sensibilidade devido à perda auditiva. “Por isso, é comum pessoas idosas terem dificuldades com o uso de aparelhos, pois normalmente elas só procuram realizar a audiometria por insistência da família e quando já há uma perda auditiva considerável, que significa que diversas frequências já ‘morreram’. Os aparelhos, nestes casos, vão apenas ampliar o som das que restaram, que são, normalmente, os muito graves e, quando ampliados, causam muito incômodo. Por isso, sempre alerto: as pessoas não têm noção da consequência negativa de procurar um fonoaudiólogo tarde demais. Mas, quando o usuário consegue se antecipar e colocar o aparelho quando os demais caminhos de outras frequências ainda estão em funcionamento, é possível ouvir os sons de forma harmônica”, explica.
História de vida: cantor desde os 8 anos de idade
“Desde os meus 8 anos de idade, eu já cantava em concursos de canto e sempre que assistia o NHK Kohaku Utagassen (tradicional programa japonês, transmitido anualmente no dia 31 de dezembro), com a minha família, eu já me imaginava no palco do programa (que era o mesmo estúdio onde acontecia o concurso de karaokê, NHK Nodojiman) e sonhava que um dia eu cantaria lá. Quando cheguei às finais do concurso, entrei no palco e na hora reconheci que era aquele mesmo que eu sonhava em pisar desde criança. Só por ter conquistado essa realização de estar lá e de me fazer voltar àquela memória de infância, já tinha valido a pena participar do concurso. Eu não esperava ser o vencedor, porque tinham duas candidatas japonesas muito fortes. Por isso, quando anunciaram o meu nome como o vencedor, eu fiquei muito surpreso, principalmente por ser o primeiro estrangeiro da história do concurso a ganhar e, então, não consegui conter as lágrimas”, relembra Joe.
Apesar da família do cantor fazer parte do mundo do karaokê – o pai era diretor do departamento de canto em Maringá e a irmã Jane também já participava de concursos de karaokê-, Joe diz que os pais deixavam os filhos à vontade para seguirem a carreira da música ou não. “Como eu via minha irmã sempre ganhando presentes pelas participações nos concursos de karaokê, eu comecei a me interessar mais para ganhar também os mesmos brindes. Mas, comecei a tomar gosto mesmo pela música ao participar de aulas na escola japonesa, que ao final do dia, ministrava aulas de canto e, assim, comecei a cantar”, conta Joe.
Aos 11 anos, começou a fazer shows, mas após entrar na fase da adolescência, o cantor precisou reaprender o ajuste da voz. Aos 14 anos, juntamente com jovens da região, Joe promovia eventos, shows e intercâmbios de cantores entre São Paulo e Maringá.
O cantor tinha acabado de se formar em Análises de Sistemas em Curitiba e, na mesma época, também havia acabado de ganhar um concurso de karaokê também na região. Um patrocinador, acreditando em seu potencial, o presenteou com uma passagem de ida para o Japão para que ele tentasse a carreira de cantor. “Eu decidi agarrar a oportunidade e como minha família era humilde, recebi ajuda de muitos amigos, parentes, conhecidos que vinham contribuir para que eu conseguisse ir para lá. Eu não tinha ideia com o que eu ia trabalhar no Japão, não sabia nem falar o idioma, mas decidi encarar e então, amigos de Maringá, Curitiba e Marília me ajudaram a arrecadar fundos para eu conseguir me manter lá”, explica.
Com a cara e a coragem, Joe embarcou para o Japão e conseguiu trabalhar em grandes empresas, como a Sony e logo depois como engenheiro mecânico em uma fábrica. “Eu simplesmente aceitei o desafio e pedi para o meu pai me mandar livros do Brasil para eu estudar engenharia, desenhos e o idioma. E assim, depois de dois anos me tornei o desenhista principal do escritório e implantei os projetos em inglês, idioma técnico que aprendi sozinho, também com dicionários enviados pelo meu pai. Nessa empresa trabalhei por quatro anos e meio”, explica.
Ao longo do tempo que permaneceu no Japão, Joe montou um grupo de brasileiros que gostavam de cantar. “Na época, havia uma rejeição grande por parte dos japoneses em relação aos brasileiros, mesmo os descendentes. Então, montamos o grupo de brasileiros (Burajiru Bukai) com o intuito de participarmos dos concursos de karaokê em um dos maiores grupos de karaokê do Japão, o NAK (Nihon Amateur Kayo Sai), para mostrar aos japoneses, por meio da música, que os brasileiros têm seu valor e que nós também preservamos a cultura japonesa no Brasil. Então começamos a ganhar vários concursos no Japão e, com isso, a conquistar o respeito dos japoneses”, diz.
No concurso da NHK, um amigo de Joe que o inscreveu. “Eu já tinha participado de sete concursos e por sete vezes consecutivas ganhei em segundo lugar, então eu já tinha desistido de participar de concursos. Mas um amigo me inscreveu no NHK Nodojiman e, para minha surpresa, eu fui passando de fases. Mas eu nunca imaginei que eu seria o vencedor”, brinca. E ele levou o troféu com a canção Shining On Kimiga Kanashii, que surpreende a todos que pedem para Joe cantar uma palhinha, pela potência que alcança a voz do cantor.
Após a vitória, Joe recebeu diversos convites de gravadoras japonesas e de compositores famosos, mas decidiu que era hora de largar tudo, após seis anos morando no Japão. O falecimento da mãe ao estar distante o fez refletir e queria retornar ao convívio com a família, além do que, seu segundo filho tinha nascido no Brasil e ele ainda não o conhecia. Joe decidiu então voltar para Maringá e teve apoio de um empresário que o empregou em uma corretora de seguros. Mas, ainda assim, sentia que seu coração estava vazio.
A trabalho em outra empresa, o cantor retornou ao Japão em 1997, mas não imaginava que tinha conquistado o reconhecimento do público brasileiro, que passou a ganhar mais respeito do povo japonês por conta da conquista de Joe do prêmio do NHK Nodojiman e, então, voltou a cantar. Descobriu que era o que queria para a sua vida e, em 1998, lançou a sua carreira no Japão e, ao voltar para o Brasil, em 1999, lançou-se na casa de shows Olympia. “Aqui no Brasil, eu tenho o objetivo de mostrar que tenho olho puxado, mas sou brasileiro. Por isso que canto músicas sertanejas, mas sempre com um toque oriental, e também músicas da minha essência, que são as canções japonesas que apresento em eventos da comunidade oriental”.
Além dos shows presenciais que vem retomando aos poucos, o cantor é compositor, produtor musical, presidente de júri do WKC (Campeonato mundial de Karaokê), preparador vocal e mantém uma agenda cheia de lives, muitas das quais contribui voluntariamente com entidades culturais da comunidade oriental na arrecadação de fundos em decorrência do período da pandemia. Chegou a participar de até três lives por dia, cantando ao público da web em eventos on-line que se desdobraram para angariar fundos com a parada dos eventos presenciais. “Desde o início da minha carreira, eu sempre recebi muita ajuda de amigos, parentes e de pessoas da comunidade que vinham me ajudar por acreditarem no meu talento com a música. Então eu sou grato a toda ajuda e por isso retribuo como posso: cantando”, diz.
E quem tiver o interesse em conhecer de perto o troféu, que tem 1,40m, pela conquista inédita do NHK Nodojiman, Joe o doou para o Museu Histórico da Imigração Japonesa, localizado no Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Rua São Joaquim, 381).
Para saber mais sobre o cantor, acesse suas redes sociais:
https://www.instagram.com/joehirata/
https://www.facebook.com/JoeHirataOficialll